Depois do vergonhoso comentário do JARDIM DO ARRAIAL ao nosso post TARRAFAL, deste dia, 29 de Outubro, o Canhotices decidiu retirar o Link do Jardim desta página. Poderão acusar-nos de comportamento anti-democrático mas tratar os 32 mortos do tarrafal como mero número estatístico, negar a longa lista de mortos do fascismo salazarista, falar dos desenhos na prisão de Álvaro Cunhal como "bonecos" e rematar a falar de tiros na nuca nos comunistas é um comportamento vergonhoso a que não damos mais cobertura a partir de hoje.
Por respeito à memória. Pelo nosso futuro.
Torres Novas 29 de Outubro de 2006
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1 canhotices:
Caro ZéManel, tenha lá calma e guarde as suas indignações escandalizadas para melhor alvo.
Vamos lá a ver se nos entendemos:
1-As 32 mortes - Ninguém aqui usou a expressão “SÓ” para caracterizar as 32 mortes que refere. Foi você que a usou e deu esse sentido à frase, não eu. Uma morte que seja é já Morte em demasia. O que pretendo é chamar a atenção para o tipo de afirmação que fez, que não aceito, porque é tendenciosa. Você acusa, abusivamente, de se ter pretendido “eliminar fisicamente os inimigos do regime” através da prisão do Tarrafal. Mas depois refere 340 prisões e 32 mortes. Com certeza a “morte não é uma estatística”, como diz, nem me passa a mim pela cabeça diminuir a gravidade de 32 mortes (cujas circunstâncias desconheço), mas um regime que crie uma estrutura para "eliminar pessoas", como também diz, elimina-as, não lhes dá tempo para coisa nenhuma, à semelhança do que sucedia nos regimes "fascistas". Não aceito afirmações que visam amplificar o que já de si é mau. Nos regimes “fascistas”, caro ZéManel, não havia presos políticos com a importância de Álvaro Cunhal vivos ou com a possibilidade de receber material de desenho e você sabe bem disso.
2-Fascismo - Fascismo, caro ZéManel, tal como hoje é utilizado, é um conceito aplicável a regimes que praticaram determinadas acções, acções que encontramos na Alemanha Nazi, na Itália Fascista, na Rússia Soviética ou na China comunista… de onde se destaca a prática do homicídio sumário e maciço sobre presos políticos ou simples civis. Você, sendo comunista, não admite que sejam imputadas à doutrina socialista a prática desses crimes, apesar de perpetrados por regimes ditos comunistas. Compreenda que, da mesma maneira, nem toda a gente admita que seja colocado na mesma categoria um regime que, tendo graves falhas, não foi “fascista” nem é, nesse aspecto, comparável aos regimes “fascistas”. Trata-se de um erro repetido muitas vezes num tempo conturbado e que vem sendo corrigido por alguns destacados historiadores e políticos de esquerda (Fernando Rosas ou Mário Soares, por exemplo).
3-“Tiros na nuca” – Amigo Zé, as expressões chocantes servem para ilustrar realidades. Realidades foram, assim, os tiros na nuca sumários nos campos de concentração de Hitler, Estaline, Mussolini, de Mao ou de Poll Pot. Aí, caro Zé, os contestatários políticos, responsáveis pela mobilização popular ou de outras forças, não eram contemplados com “tempo”, e muito menos com a possibilidade de dar largas à sua criatividade artística. Compreenda isto!
Ninguém aqui está a sugerir que se devam dar “tiros na nuca” em quem quer que seja (estupidez é eu ver-me obrigado a explicar isto), simplesmente estou a explicar uma óbvia diferença entre os métodos e condutas de regimes verdadeiramente “fascistas” e os métodos de um regime que aplicou “técnicas” policiais que não foram aprendidas noutro lado que não junto das forças policiais inglesas, americanas e francesas, as “exemplares democracias” de então (para não falar das técnicas do KGB)!
Repito, não estou a diminuir a gravidade das referidas 32 mortes, mas a “eliminação física dos inimigos do regime” não foi um método desse regime, ao contrário do que se passava em vários regimes socialistas de então, e não é por um comunista o repetir até à exaustão que isso passa a ser verdade. Apenas isto.
4-“Bonecos” – Caro ZéManel, nem todos têm de ver o expoente da arte contestatária nas obras de Cunhal. Aceite isto. Respeito a expressão artística de toda a gente, mas não me obrigue a chamar “arte” ao mesmo que você. Não seria justo. Já agora esclareço melhor, bonecos são, para mim, tudo o que constitui a chamada “arte contemporânea”, onde o abstraccionismo ou a distorção pictórica da realidade é regra corrente,como vejo na obra de Cunhal. Chame-me bárbaro, antiquado, é como o sinto. É uma questão estética, não política.
5 – Por fim, “Álvaro Cunhal” – Por muitas objecções que coloque à sua obra política, por muitas consequências nefastas que também a ele atribuo (no âmbito da descolonização e do processo de democratização em Portugal), guardo um prudente respeito pelo bastião de coerência e de “Fé” que Cunhal constitui na nossa História. Pelo lado positivo, a sua conduta enquanto homem de valores, é, pelo lado negativo, só comparável à intransigência e teimosia com que abdicou de entender as mudanças inevitáveis na civilização, o que resultou numa vivência amargurada face à óbvia decepção com que assistiu às subsequentes opções políticas do povo português. É a minha visão.
Posto isto, não pretenda, colocar-me na posição de andar a “distribuir tiros” pelas nucas de quem quer que seja, ou de andar a desvalorizar a morte de quem quer que seja, não foi nada disso que eu disse e não procure manipular frases.
Se não me compreendeu, procure compreender antes de ter acessos de fúria.
Uma coisa é desrespeito, outra, bem diferente, é emitir opinião contrária, livremente. Espero que, com esta explicação, tenha demonstrado que se trata aqui do segundo caso.
Creia-me, sem agravo:
Jardim.
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