"Mentiroso! Mentiroso! Mentiroso!", gritado ou cantado, seria o mais moderado dos adjectivos colados a Sócrates por professores e metalúrgicos, sindicalistas vindos desde Faro a Bragança, humildes de mãos calejadas e dedos delicados de secretária, ferroviários e corticeiras, T-shirts com a efígie de Che ou do Rock in Rio.Numa tarde de Outubro com um sol de Maio, marchavam os líderes do PCP (Jerónimo de Sousa) e do BE (Francisco Louçã), filiados desde o Sindicato Nacional dos Psicólogos até ao Sindicato dos Trabalhadores das Pescas, mineiros da Panasqueira e empregados da administração local, boinas bascas e bonés do Sporting, mais pins com Lenine que medalhas em esmalte com Nossa Senhora. E Carvalho da Silva era obrigado a interromper, várias vezes, o discurso para ser dada a indicação de que era impossível parar. Palavras de ordem distribuídas, faixas das organizações sindicais, slogans repetidos, placas improvisadas. As grandes causas nacionais. "Há lucros aos milhões e só cortam nas pensões"; "Segurança Social é nossa, não é do capital"; "Contenção salarial só serve o capital"; "Custo de vida aumenta, o povo não aguenta". Os problemas locais. "Exigimos um médico porque não temos nenhum"; "As 3 maternidades [da Guarda] são necessárias". Bandeiras de cada classe. "Militares em defesa dos direitos"; "Se trabalhassem 5 anos na construção civil estes 'amigos' [fotos de Sócrates, do ministro Vieira da Silva e do presidente da CIP, Francisco van Zeller] reivindicavam a reforma aos 50 anos". Aflições em algumas empresas. "Corticeiros do Barreiro - Esence - exigem salários"; "Trabalhadores da Flor do Campo - 97 despedimentos por fazer greve".E, entre bombos barulhentos de Viana e funcionários públicos a bater testos em tachos, um reformado da CP, natural de Pias, mas residente em Lisboa, no meio do seu discurso contra o Governo, nem hesitava: "Sócrates é Salazar ressuscitado."
Dn on-line, 13 Outubro 2006
0 canhotices:
Enviar um comentário