CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

23.11.06

Índigo - Postais de Torres Novas

Publicada por zemanel |

Está no Índigo de Graça Martins.
São retratos desta Cidade que pede tratamento.
Uma Cidade que se envergonha e envergonha .
Escondida e abandonada.
Entre as variantes e as rotundas milionárias.
Porcaria, podridão.
A falta de respeito.
Obrigado, Graça Martins!
http://indigo-gm.blogspot.com/2006/11/postais-de-torres-novas.html

3 canhotices:

graça martins disse...

zémanel,

obrigado mais uma vez pela tua visita sempre tão cuidadosa. As fotos foram tiradas ocasionalmente, sem qualquer cuidado de enquadramento específico, mas resultam de uma preocupação e reflexão que faz muito tempo venho a desenvolver, principalmente quando as chuvas intensas, como as de hoje, provocam a insegurança dos que vivem nas antigas habitações da zona velha (ia dizer antiga mas é mesmo velha!).

Numa altura em que se desenvolve o programa "Memórias da História", acho pertinente a reflexão sobre os espaços menos acarinhados da cidade. Não no sentido estritamente cáustico ou de desconsolo, mas acente na convicção que o centro histórico é muito rico em oportunidades até agora descuradas. É meu desejo que a reflexão seja feita, não para dizer mal, mas para criar possibilidades de resposta responsável, pertinente e, essencialmente consequente.

GR,
obrigado pelo comentário, efectivamente tenho um sentimento de respeito e apreço pela cidade, o que não me deixa indiferente ao que de bom aqui acontece, nem apática relativamente ao que falta acontecer. Também acho Torres Novas muito bonita, tem tudo para ser uma cidade de eleição (localização, rio, castelo, serra), foram feitas muitas coisas importantes e indispensáveis, desde arruamentos, esgotos, etc. Até as rotundas, não me parecem um mal em si (mesmo que algumas deixem a desejar em relação aos ornamentos despropositados e muitas vezes exagerados em proporção e, certamente, em financiamento), na verdade facilitam o trânsito e organizam a cidade. Também acho exagerada a necessidade que temos de ter "palácios" que, para todos os efeitos, só a palavra é descriminatória (quando tanta gente vive precariamente e as associações e colectividades trabalham sempre com uma economia de subsistência no limite das possibilidades).

O que eu quero dizer é que enquanto caem as casas, com todos os perigos evidentes para quem ali vive, com toda a paisagem urbana a desbroar, outro fenómeno acontece e que eu associo. Poderia (não sei se há) existir um plano de recuperação da zona antiga que enquadrasse incentivos para a população mais jovem. Assim como "saem os cérebros de Portugal", os jovens não voltam a Torres Novas!!! após os estudos universitários. Tenho concluído isso cada vez mais, pois já fui professora de muita gente, já licenciada, que me diz: Torres Novas até poderia ser bom para viver, mas não existe ambiente, resposta, possibilidades para se organizarem profissionalmente, além de que não há gente nova (falei com 2 ex-alunos este último fim de semana na festa da inauguração da UFF em Tomar, e foi o que me referiram - insisti que enquanto não houver exigência crítica por parte da camada mais jovem - estão a chegar aos 30 anos - não me parecia que houvesse senssibilidade para a resolução do problema e...responsabilizei-os a eles!!! Enquanto se forem embora não criam exigência aqui!).

Isto resulta num défice de inovação, jovialidade, juventude, criação, respostas actualizadas, activação, sangue novo, respostas novas e, essencialmente, novos rostos.

Ao mesmo tempo verifico que, em Tomar a iniciativa para a dinamização da zona antiga está a partir da camada mais jovem (20-30 anos). As ruas estão em péssimo estado (estão a arranjar os esgotos), as casas também estão envelhecidas, mas, a curto e médio prazo, jovens que foram estudar para o politécnico e outros, recuperam os espaços e dinamizam, criam alternativas que obrigam a Câmara, mais cedo ou mais tarde, a intervir no sentido de dignificar e respeitar o núcleo da cidade, além de que estão a FICAR (trabalhar e a habitar) na cidade (mesmo os que não são de Tomar).

Este FICAR de uma geração mais nova e este RECUPERAR a zona histórica para mim, parece-me tão óbvio, tão evidente, tão interessante, que não consigo deixar de voltar a referir isto.

Ainda bem que, mesmo assim, verifico a vossa atenção, energia e cuidado.

Peço desculpas por ter escrito tanto.

Um abraço,
Graça Martins

bicho_mau disse...

Os problemas estão identificados.

Os modelos de recuperação de Tomar, Évora ou Castelo Branco não se enquadram na realidade torrejana, tem um polo universitario.

Ja a aposta no turismo cultural e da Natureza me parecia um caminho mais seguro.

Então para quando uma associação que sirva a defesa do nosso patrimonio cultural, mas essencialmente a promoção da discussão em torno das modalidades da sua rentabilização?

graça martins disse...

bicho-mau,

Efectivamente um polo universitário ou politécnico influencia bastante. Nós temos apenas a ESE e isso altera efectivamente as circunstâncias a que me tenho referido. Por isso acredito que apenas uma intervenção conjunta entre interessados e responsáveis, poderia resultar numa intervenção eficaz. A Câmara tem um gabinete de arquitectura que poderia definir critérios de intervenção, uma vez que uma zona com passado, não deve, nem pode, ser submetida ao acaso das possíveis (até agora impossíveis) possibilidades de recuperação. Depois poderia haver um processo de incentivo, motivador, facilitandor das burocracias e impostos associados (mesmo que parcelamente ou inexistentes nos primeiros anos até à consolidação das propostas, sei lá!). Acho que era apenas necessário haver sensibilidade para o problema, uma equipa que estudasse o problema, colocando regras, soluções, etc., o resto, certamente, viria por acréscimo, inclusivé o turismo cultural e da Natureza que refere.


Creio que não seria preciso formar uma associação (leva tempo, necessita de estatutos aprovados, etc.etc.etc.), mas acho que um forúm de discussão para começar poderia ser um bom presságio para o futuro dos testemunhos do nosso passado.

Se estiverem interessados, poderia ser possível a criação de um forúm, mesmo virtual (inicialmente, para facilitar a intervenção de todos os interessados) que criasse massa crítica e propostas com possibilidades de publicação na impressa local e virtual...depois...dir-me-ão vocês.

Graça Martins

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