Da edição desta semana do MIRANTE:
A honestidade e carácter
Nunca militei num partido político mas em jovem pertenci a uma força política ligada ao PCP. Durante oito anos ( se bem me lembro) tarimbei convivendo com algumas pessoas que me abriram os olhos à medida dos seus. Alguns, não sendo figuras de ficção, eram no entanto muito parecidos com personagens dos meus livros de cabeceira. Um dia, numa reunião preparatória de uma assembleia municipal, assisti a uma provocação de um jovem da minha idade que convidou para brigar na rua, a meio de uma discussão, o homem na altura mais prestigiado do PCP que se sentava ao meu lado. Quase que o arrastou para fora da sala, puxando-o por um braço, exaltadíssimo, ao contrário do outro que soube aguentar com serenidade as provocações do seu camarada de partido, fingindo que aquilo não era nada com ele (um já morreu e o outro é, hoje, funcionário do PCP).
Uma das últimas vezes em que meditei sobre este episódio, e nas lutas intestinas que se travam dentro dos partidos, com prejuízo para a saúde mental de cada um de nós, foi há cerca de quatro anos quando dei boleia no "meu" táxi ao velho António Dias Lourenço (ADL). Encontramo-nos já a noite ia adiantada num lugar sem transportes públicos, depois da sessão de lançamento de um novo livro de António Lobo Antunes, em que ADL tinha sido convidado especial por ser amigo do escritor de Os Cus de Judas.
Foi uma viagem de táxi que durou pouco mais de meia hora. O tempo suficiente para que ADL contasse meia dúzia de histórias da sua vida que me comoveram. Contando episódios da sua longa jornada o velho comunista não fez mais do que falar de política e do trabalho político que foi toda a sua vida de militante comunista.
Nesse dia voltei a ser simpatizante do PCP. Foi graças a homens como António Dias Lourenço que o PCP conseguiu mobilizar para as suas coligações políticas pessoas que, como eu, nunca militaram em partidos mas sempre acreditaram nos ideias de justiça e fraternidade.
A entrevista que ADL deu à Ana Santiago, que foi publicada numa das últimas edições de O MIRANTE, mexeu outra vez com os meus sentimentos. Embora vivamos, cada vez mais, num tempo em que toda a gente é funcionário cansado, e não sabe, nem sonha, que loucura é essa de ainda acreditarmos que a nossa maior riqueza é a honestidade e a firmeza do carácter.
Por: JAE
Uma das últimas vezes em que meditei sobre este episódio, e nas lutas intestinas que se travam dentro dos partidos, com prejuízo para a saúde mental de cada um de nós, foi há cerca de quatro anos quando dei boleia no "meu" táxi ao velho António Dias Lourenço (ADL). Encontramo-nos já a noite ia adiantada num lugar sem transportes públicos, depois da sessão de lançamento de um novo livro de António Lobo Antunes, em que ADL tinha sido convidado especial por ser amigo do escritor de Os Cus de Judas.
Foi uma viagem de táxi que durou pouco mais de meia hora. O tempo suficiente para que ADL contasse meia dúzia de histórias da sua vida que me comoveram. Contando episódios da sua longa jornada o velho comunista não fez mais do que falar de política e do trabalho político que foi toda a sua vida de militante comunista.
Nesse dia voltei a ser simpatizante do PCP. Foi graças a homens como António Dias Lourenço que o PCP conseguiu mobilizar para as suas coligações políticas pessoas que, como eu, nunca militaram em partidos mas sempre acreditaram nos ideias de justiça e fraternidade.
A entrevista que ADL deu à Ana Santiago, que foi publicada numa das últimas edições de O MIRANTE, mexeu outra vez com os meus sentimentos. Embora vivamos, cada vez mais, num tempo em que toda a gente é funcionário cansado, e não sabe, nem sonha, que loucura é essa de ainda acreditarmos que a nossa maior riqueza é a honestidade e a firmeza do carácter.
Por: JAE
1 canhotices:
Estou a ler este testemunho. As tuas palavras comovem-me.
Depois, o nosso querido Dias Lourenço é para mim um camarada muito especial. É o exemplo vivo do lutador que não pára, continua, Resiste! O camarada que sabe do que fala, comunica com simplicidade, humildade, honestidade e uma convicção contagiante. Tive o privilégio de poder privar com o camarada Dias Lourenço algumas vezes, ouvi dele fascinantes histórias, algumas ri, outras assustei-me, mas aquela que mais me comoveu foi quando conta com muita saudade e profunda tristeza, a perda do seu filho de dez anos. “Tóino”morre com leucemia, ao ir a Peniche despedir-se do pai, um PIDE bate no camarada António e “o meu menino é a última imagem que leva de mim!”
Que dizer? A dor e a raiva embarga-me a voz, os meus olhos brilham, tentando amarrar as lágrimas. Olho fixamente este terno pai, sentado com as mãos nos joelhos, um olhar distante e o silêncio invade a sala. Dói!
“Vou publicar um livro. Pequenas histórias, cartas enviadas ao meu querido Toinito, desenhadas por mim. Irá chamar-se «Saudades…Não Têm Conto!»” Continua a saga de histórias verídicas, entre chá e uns docinhos, partilhando com o meu Snoopy.
Tantas histórias e ensinamentos tenho, do nosso querido camarada António.
Como gostava neste momento de estar ao seu lado a ouvi-lo, a acarinha-lo.
Zé Manel,
Que post mais bonito e afectuoso escreveste.
Também tu és um jovem honesto e de carácter.
GR
Enviar um comentário