CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

30.4.07

1º Maio, Trabalho e Torres Novas

Publicada por zemanel |


De que falamos, quando falamos de Trabalho em Torres Novas?
Vão longe, bem longe, os tempos da vila operária. Vão longe, bem longe os tempos dos metalúrgicos da Nery, Lourenços, Martinho Gato, Vítor Réquio, Videla, oficinas dos Claras... das mulheres da fábrica da Fiação e Tecidos, dos gráficos da Almondina e do Conde Marques, das serrações da Mopam e Félix Carreira. A vila industrial dos anos 60, deu lugar progressivamente à cidade comercial e dos serviços do século XXI. Do fervilhar do movimento operário nasceu um forte movimento associativo popular (desde a Banda Operária ou o Montepio no século XIX), uma riqueza associativa que fez com que a Vila ganhasse na região um lugar destacado na cultura, no desporto, no ensino (com a implementação da Escola Industrial e Comercial que era uma referência regional) que se reflectiria naturalmente na consciencialização social e política.
Hoje, em vésperas de mais um primeiro de Maio de que falamos, quando falamos de trabalho em Torres Novas?
Falamos de uma agricultura praticamente inexistente nas aldeias.
Falamos da Indústria que praticamente desapareceu.
Falamos de emprego nos shopings, nas bases logísticas, nos hipermercados que por aqui se instalaram, por via da saída da auto-estrada do Norte e da A-23 que aqui se inicia.
Falamos de Trabalho tipo rotunda, muito - muito básico: Em rotação constante, Precário, desregulado, baseado em baixas remunerações. Temporário. Com termo certo. Trabalho de gente que sente ausência de futuro. Trabalho explorado por gente que leva o dinheiro dos torrejanos todos os dias nas carrinhas de valores.
Falamos de trabalho de gente que tem que comer e calar. Para pagar a casa, o carro, o infantário. De gente que não tem tempo para viver a sua terra, para viver na sua terra. De gente que tem medo de aparecer e dar a cara, o rosto. De gente que aguarda pacientemente o recibo verde.
(... mas há quem resista: Em Torres Novas no último 25 de Abril uma funcionária de um Hiper do senhor Belmiro, ostentava ao peito, no seu local de trabalho, o mais belo cravo vermelho que nesse dia vi – um cravo puro e genuíno de festa e de protesto.)
Enquanto isso Torres Novas definha: na sua produção cultural, nas suas associações, no desporto. Na consciência política.
...Na consciência social – seja lá o que isso for...
Definhamos.
E os jovens que daqui saem para estudar... raramente para aqui querem voltar. Há coincidências?
Mas continuamos a dar voltas às rotundas e fingimos que estamos a progredir. Porque jantamos um big mac comprado no Macdrive do MacDonald...
Ou um puto vem de vespa entregar-nos uma pizza para o jantar e leva 20 cêntimos de gorjeta.
De que falamos, quando falamos de Trabalho em Torres Novas?

1 canhotices:

GR disse...

Um bom texto para reflectir e discutir!

GR

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