"...) Percorro as horas côncavas do resetvatório da noite. O ar continua quente. Já não se vêm punhos fechados nem bandeiras vermelhas. Começou a miragem a tornar-se realidade. Celebrando a vitória, os namorados amam-se, os solitários bebem em conjunto e fazem saúdes, os velhos deitam-se na luz das constelações. descansam a cabeça em travesseiros de espuma e aguardam que, enfim, a vida se transforme
Falo dos mais pobres, dos pobres, desses que foram tão abandonados como os leixões que têm de mudar de sítio para deixar passar os barcos. Desses para quem a austeridade vai ser um maná. Da maioria dos portugueses.(...) Hoje ainda é tempo para o luxo das bandeiras, com sinais inscritos como liberdade, camarada, pão igual.
A Revolução é uma exaltação, a mais pura, entre dois tempos. amigos, façamos que ela dure, que se aprofunde, que não se corrompa. Eu sei que é dificil, quase impossível. Mas sei que atingiremos com o nosso saco às costas, pleno de erros e decepções, a margem certa de uma existência mais humana. e isso, afinal, por pouco que a alguns se afigure, vale bem a aposta: a nossa vida."
Urbano Tavares Rodrigues, in AS POMBAS SÃO VERMELHAS, Livraria Bertrand 1977
- destaques do Canhotices
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