CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

13.5.08

Torres Novas: Silêncio e tanta gente.

Publicada por zemanel |


Estão estranhos, os tempos, nas margens do Almonda. Não sei se houve foguetes com a subida do clube da cidade aos nacionais. Não sei se houve, porque não os ouvi. Noutros tempos, este feito, tinha dado para uma festarola pelo Largo da Botica e pela Praça 5 de Outubro. No Domingo, pairava o silêncio pela Cidade. Consulto hoje, terça-feira o site do Clube. Houve uma pequena recepção à chegada do autocarro ao estádio. Mas o povo, que apareceu sempre, nestas coisas da bola faltou. Não estava lá. A cidade continuou estranhamente silenciosa. Já não vai em festas. Aliás acho que já não vamos em nada. Resta um estranho silêncio.
O silêncio. É isso. A cidade está feita de silêncio. O velho centro da vila emudeceu. O tempo parece ter parado. Apenas e ilusoriamente o tempo terá parado. Ecoam nos nossos ouvidos o barulho das pessoas pela vila, das sirenes das fábricas. Mas o tempo não parou e isso vê-se nas casas, muitas casas, cada vez mais casas que ficam desertas. Com as paredes esboroando-se lentamente, inevitavelmente esboroando, caíndo.
Dos jornais, desta terra, pouca coisa contam da vida que aqui se vive. Das filas no Centro de saúde, da pobreza envergonhada de muitas famílias, da decadência do pequeno comércio. Nos jornais da minha terra não percebo porque não falam de certas coisas. Ou melhor, finjo não perceber.
Não percebo porque ninguém fala dessa empresa histórica de Torres Novas, a "Fábrica", com os seus salários em atraso, o seu declínio, a redução progressiva de pessoal com ofertas de indemnização e pré-reformas. Não percebo como essa empresa que é património secular da memória da nossa terra, que está no código genético da vila que viu nascer uma revolução industrial nas águas do Almonda, está a morrer perante tanto silêncio. Não percebo porque não se fala de uma outra fábrica, na zona Industrial que pretende reduzir o seu quadro de pessoal por inteiro e portanto encerrar as portas. Não entendo como ninguém fála da limitação de liberdades essenciais, como a proibição de distribuição de informação sindical junto ao portão de algumas fábricas, algumas delas igualmente relevantes e históricas…
Silêncio e tanta gente, cantou Maria Guinot num festival da Canção da RTP há uns anos. Silêncio e tanta gente é o retrato destas Torres Novas. Aqui que é a terra de Delgado e de Maria Lamas.
Onde alguns ainda resistem e afirmam, a condição de se ser, afinal estranhamente , Livre!
E nunca calados. Estamos cá, contem conosco para lutar e, como dizia o cantor, para o resto.

Subscribe