Os slogans partidários são uma entidade cheia de mistérios. Muitas vezes são perfeitamente dispensáveis, mas alguém deve ter inscrito como lei nalgum lado que o slogan eleitoral tem que estar sempre presente.
Na maior parte dos casos, o slogan é a repetição de um lugar comum vazio e sem sentido. O slogan pode ser uma frase, uma rima (juro que eu já vi!) ou uma simples palavra.
Ou às vezes é nada - mas está lá sempre:no fundo do palco, no palanque, no outdoor. A cumprir o seu papel de enfeite. Uma espécie de bolinha colorida na árvore de natal.
O cúmulo do slogan vazio terá sido usado pelo PSD nas legislativas de 1991. A confiança na conquista da maioria absoluta era tal que Cavaco Silva limitou-se a inscrever "1991" nos sacos de plástico, nos aventais, nas t-shirts, no fundo dos palcos. E ganhou pois claro - e ainda hoje estou para saber o que é que o PSD quis dizer de tão importante com 1991!
Em 1995, Guterres veio palavroso, picareta falante, derrotar o PSD. Anunciava que " as pessoas não são números" - frase que sendo verdade é de nulo conteúdo político e tinha o mesmo valor do 1991 do PSD quatro anos antes. Mas sempre enchia o outdoor. Como Guterres enchia os seus discursos de palavras.
Em 2008, nos Estados Unidos, um negro falou em Change. E a mudança deve ter vindo para ficar no discurso político pátrio. Para já as duas moções do congresso do PS repetem à exaustão:
a moção de Sócrates chama-se " A força da mudança" e a moção de Fonseca Ferreira aposta mais simplesmente em "Mudar para mudar". Claro que o facto do PS estar no governo desde 1995 (apenas com 2 anos de interrupção) é um pequeno pormenor...
Entretanto a criatividade dos slogans atinge o seu apogeu nas eleições autárquicas. É um prazer viajar pelo país 8 dias antes de umas eleições autárquicas. O país prova que a construção de slogans é um fenómeno criativo porventura único na Europa.
Claro que este ano, esmagados por Obama a imaginação vai sofrer um revés:
A mudança vai andar por aí e em força! Vai ser um fartote ver Presidentes de Câmara com 15 e 20 anos de mandato a prometerem a Mudança necessária, a mudança precisa, a mudança na continuidade (mau, mau) a mudança tranquila...
Os publicitários e marketeiros famosos e de província que se ponham a pau: poderão ver o seu lugar ocupado por empresas de mudanças.
Vai uma aposta?
Nota: já sei que vão pegar no "SIM, é Possível!" que o PCP está a usar e que vão comparar ao "Yes we can" que Obama usou. Serve esta nota para informar que já em 2004 existem documentos do PCP que se referem ao "Sim é possível!"
2 canhotices:
Pois. O PCP tem o slogan (até poderia processar o Obama por plágio), agora só lhe falta uma limpeza às teias de aranha, um líder que saiba dizer um par de frases seguidas com o mínimo de eloquência, e, já agora... uma ou duas horazitas no solário, que é para estar na moda.
Triste anónimo!!!
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