CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

2.1.07

PENICHE 1960 - 2006

Publicada por zemanel |


A 3 de janeiro de 1960, fugiam do Cárcere Fascista do Forte de Peniche, Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Miguel, Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues. Passam 47 anos amnhã, sobre esta data. A Câmara Municipal de Peniche promove uma justa homenagem.3

Peniche é hoje uma cidade próspera e nada tem a ver com a vergonha da Prisão Política que o Fascismo lá espetou. David Mourão Ferreira musicou um Fado para a Amália, que se tornaria um símbolo da resistência dos presos políticos do Fascismo salazarista.


Por teu livre pensamento

Foram-te longe encerrar

Tão longe que o meu lamento

Não te consegue alcançar

E apenas ouves o vento

E apenas ouves o mar

Levaram-te a meio da noite

A treva tudo cobria

Foi de noite numa noite

De todas a mais sombria

Foi de noite, foi de noite

E nunca mais se fez dia.


Ai! Dessa noite o veneno

Persiste em me envenenar

Oiço apenas o silêncio

Que ficou em teu lugar

E ao menos ouves o vento

E ao menos ouves o mar.



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7 canhotices:

A minha verdade disse...

O mito continua... Mas então você ainda não sabe que Salazar orquestrou essa fuga?!?

É bom viver de lendas e de musas inspiradoras...

zemanel disse...

Queres ver que os malandros enfiaram-se na prisão só para chatear o Botas.
Era este o segredo ignorado!
Mas o Jardim trouxe a Luz, a Verdade!
Quer falar a sério? é que assim não há pachorra para o aturar, homem!

Maria disse...

Agora aparvalhei-me, pensei que tinha entrado no campo errado...

Ai o que eles dizem...
Se calhar há 33 anos podíamos estar aqui nesta "amena cavaqueira", se houvesse net...
Se calhar podíamos, zé manel, nós é que não sabíamos...

O que eu tenho ainda para aprender...
Haja paciência, pra tão pouca inteligência!

A minha verdade disse...

Não é uma questão de “inteligência”, Maria, mas de leitura desapaixonada. Faça uso de toda essa “liberdade” que apregoa e veja para além do romance comunista.

Caro Zé, então vocês, os da Esquerda, sempre prontos a encontrar conspirações, manhas e artimanhas, de ontem e de hoje, contra os valorosos lutadores anti-capitalistas, vocês que fazem da PIDE uma organização eficientíssima e cheia de processos escabrosos de controlo e opressão, vêm agora assobiar para o lado, fazendo-os passar por papalvos, porque convém que o romance da fuga de Peniche fique para a História como “o momento em que o PCP ridicularizou o regime”?!?!

No dia 3 de Janeiro de 60, Cunhal, Dias Lourenço, o Costa Carvalho, Francisco Miguel, Rogério de Carvalho, Joaquim Gomes, Carlos Costa (mais outros 4 pobres diabos), fugiram do forte, com o apoio de um guarda da GNR, que “fugiu” com eles, e do Rogério Paulo (do lado de fora).

Os PC’s ficaram com a ideia de que tinham conquistado a simpatia do guarda da GNR (sem o qual não poderiam ter escapado), por outro lado, os outros guardas e restante pessoal, nunca se convenceram da excessiva facilidade com que se dera a evasão. Soava-lhes a conspiração, mas vinda “de cima”. Na sua colectânea “Salazar visto pelos seus próximos”, Jaime Nogueira Pinto refere o testemunho do Dr. Franz Paul de Almeida Langhans (secretário pessoal de Salazar), onde este refere ter, à data, recolhido algumas impressões do Pres. do Conselho sobre a conveniência de resolver desta maneira o “problema Cunhal”. E que “problema” era esse? Para Salazar, tornara-se demasiadamente “incómodo” mantê-lo prisioneiro em Portugal. Dessa maneira acabava criando um mártir para os demais comunistas e isso não interessava mesmo nada. Ora, soltando-o, Salazar tinha a esperança de que ele fugisse para o Leste, largando-o da mão. Entende?

Nos testemunhos da governanta, a Srª Dª Maria, esta preocupação de Salazar face a Cunhal (que ele admirava) é destacada, uma vez que este lho confidenciara, bem como a solução que projectava para o procurar resolver. Terá sido, pois, que, por ordem directa e restrita de Salazar, um agente da PIDE terá levado a cabo o plano.

Naturalmente que é livre de duvidar destes testemunhos…mas repare que é uma informação íntima, que não provém de políticos “salazaristas” saudosos e recalcados pela amargura, mas de gente que nada tem a ganhar em inventar teorias da conspiração.

Aceito que seja mais agradável celebrar a coragem e o risco gloriosamente corrido pelos fugitivos…mas, isso não o torna verdade.

A minha verdade disse...

É pá, deixe-se de sentimentalismos e indignações forçadas! Ninguém veio aqui ofender quem quer que seja, para começar porque não estou a falar de si mas de outras pessoas que não lhe são nada. E mesmo a essas não as estou a ofender, mas sim a discutir certas “verdades” históricas que vemos hoje, mais do que nunca, serem postas em causa.

Por isso, apelo à sua serenidade. Peço que se recorde da forma “leviana” como se refere as outras pessoas e factos sem aí se preocupar tanto com o que “vomita”.

Caro Gr, os comunistas não são intocáveis. Pode ter a certeza disto!
Está a chegar o tempo em que há liberdade TAMBÉM para questionar os heróis da outra banda, os seus podres, os seus erros, os seus crimes.

Tenho o respeito que me pede para com todas as figuras da nossa História, TODAS, mas não tenho é palas doutrinais nos olhos, que dividam o passado entre os bons e os maus.

Se existem depoimentos, na minha opinião credíveis, de que Salazar ordenou à PIDE o planeamento da fuga de Peniche, eu aceito-o como hipótese, não forçosamente como verdade, e foi esta a discussão que introduzi. Se você acha que nas “glórias” do PCP não se mexe…não mexa, que haverá quem o faça com todo o gosto.

“Os inquéritos após a fuga dos PIDES”… Caro Gr, não houve fuga de PIDES mas de um Gnr. Por outro lado, o que esperava você? Que não se fizesse inquérito?! Não daria ainda mais nas vistas a conspiração?! Sabe quantos prisioneiros foram feitos entre os guardas e os pides? Zero!

Ninguém aqui é de “extrema-direita” amigo, a não ser que para si, tudo o que estiver à direita do PC o seja, o que é bem provável…!

Deixo-lhe mais um testemunho. Este é do Óscar Cardoso, antigo sub-inspector da DGS. Vale o que vale, ou seja, exactamente o mesmo que o depoimento de um comunista de então:

- É verdade que os ficheiros da
PIDE- os chamados Dossiers Individuais de Controlo, tinham informações sobre mais de um milhão de portugueses?

O.C: Não faço a mínima ideia. Quando entrei para a PIDE fiz um estágio em todos os departamentos e passei também pelos serviços reservados, mas nunca me forneceram qualquer indicação sobre o número de ficheiros existentes.

- Esses ficheiros podiam ser consultados livremente por qualquer agente?

O.C: De maneira nenhuma. Estavam reservados à consulta pelos inspectores que estavam nessa divisão. A prática era esta: se um inspector de outra divisão pretendia consultar um ficheiro, tinha de preencher um documento de requisição para o efeito, que era depois arquivado.

- Todos esses ficheiros desapareceram...

O.C: Os ficheiros desapareceram porque a sua revelação punha a descoberto os crimes e os vícios de muitos impolutos lutadores antifascistas, alguns deles bufos da PIDE. Os ficheiros importantes foram, como sabe, para a União Soviética. Os que vieram para a Torre do Tombo são refugo.
Desapareceu o processo secreto do navio Angoche, em cujo afundamento estava implicado o PCP; desapareceu o processo do dr. Álvaro Cunhal; desapareceu o processo de Júlio Fogaça, militante do PCP, preso com o namorado, que era um soldado de Cavalaria 7; desapareceu o processo que demonstrava que a famosa fuga de Peniche fora preparada pela PIDE; desapareceu o processo do Jean Jacques Valente, que estava preso por homicídio, e que depois do 25 de Abril foi credenciado para interrogar os funcionários da PIDE, em Caxias...

A minha verdade disse...

“Pessoas, que riem, choram, se irritam, amam e sentem”… há-as em todas as latitudes ideológicas… Até os nazis eram da mesma matéria que todos nós. Mau, é quando desprovemos os outros dessa mesma natureza e os tratamos como animais. De resto, caro Gr, “um futuro mais justo” tem muito que se lhe diga, especialmente quando o conceito de justiça é tão variável quanto o número de homens que o pensam.

A questão assume proporções de violência e fratricídio quando uns se arrogam a querer “ensinar” ou outros pela força. Aí, os “mártires” de uns, são os algozes de outros.

Caro Gr, quero crer que não é necessário ser-se “jovem” para se ser imparcial. Nem eu sou tão jovem assim, nem tão imparcial como gostaria. Normalmente, quem adopta e defende uma doutrina sobre tudo o resto, tem muita dificuldade em sê-lo. É o meu caso, por vezes, e sem dúvida o seu caso, aqui demonstrado. Não o acuso por isso, mas fico a saber, mais uma vez, que com comunistas não se discute a História. Para “eles”, a História vem escrita num manual muito próprio e, acima de tudo, imutável. Já aqui há uns tempos o amigo Zé Manel se incompatibilizou comigo porque não compreendeu ou não quis compreender o sentido das minhas palavras (procurava-lhe demonstrar que o antigo-regime não era fascista).

Sabe, um dos meus melhores amigos é do PCP, um querido amigo. A única vez que nos chateamos foi quando discutimos a figura de Salazar e a de Cunhal. Ele comigo, porque não admitia que eu acusasse Cunhal de traição à pátria, eu com ele, porque não admiti que apelidasse de “fascista” o regime português.

Esta amizade, e outras, prova que nada tenho contra as paixões, os sentimentos, as angústias, a coerência (que reconheço) de alguns, sublinho, alguns militantes comunistas. Mas compreenda que jamais seja pelos traumas pessoais ou sentimentais de quem viveu determinadas experiências, que a população se veja intimada a não tocar nas “verdades” absolutas do PCP. Há muitas verdades sabe?

De facto, Óscar Cardoso e outros ex-pides, revelam-se algo comprometidos quando dão os seus depoimentos. Aliás, eles admitem ter tido conhecimento ou ter participado em certo tipo de violências. No entanto, logo nos lembram que esse mesmo tipo de violências eram perpetradas por todas as polícias de então, fosse na URSS, fosse nas democracias, e todos sabemos bem que tal é verdade. Lembram-nos também que ainda hoje essas mesmas violências são prática corrente em esquadras e prisões, bem sabemos que também é verdade. Não os desculpa, mas certamente retira, a tantos dedos acusadores do regime, a legitimidade para desprover este tipo de homens de uma dignidade mínima. Também eles obedeceram a ordens, também eles acreditavam numa causa, à semelhança dos milhentos carrascos que a URSS espalhou pelo Mundo.

Quando oiço falar um ex-pide, encaro-o da mesma forma que oiço falar um ex-KGB. Tendo em conta que pouco mais podem descer na consideração geral, parto do princípio que, pouco tendo a ganhar em vir testemunhar coisas que sabem ir contra as verdades instaladas, deverão estar a dizer a verdade. Em Portugal, Rosa Casaco, pouco antes de morrer e sabendo ter uma doença em estado terminal, resolveu exorcizar os seus fantasmas e deixar as suas memórias. Porquê mentir? Foi ele que nos contou como morreu Humberto Delgado, às mãos da PIDE e sem que Salazar o soubesse. Muitos comunistas quererão, por força, que Salazar o soubesse, que Salazar o tivesse ordenado, eles têm de manter vivo o Salazar demónio e genocida que deu alento ao “anti-fascismo”. Mas não. Essa não é a verdade e começam hoje a brotar, sem medo finalmente, os testemunhos que contam a parte da verdade que desapareceu junto com muitos ficheiros da PIDE que o PCP fez desaparecer.

Imparcialidade!

Não pense que sou de extrema-direita, como já para aí disse. Se conversarmos sobre o Socialismo de Marx (e não outro qualquer), verá o que saúdo e quanto saúdo na sua doutrina. Simplesmente, sou suficientemente patriota para não admitir que a nossa História recente seja refém de um partido e da sua verdade absoluta.

Por outro lado, caro Gr, o sacrifício e a coragem de certos militantes comunistas jamais será diminuída. São factos adquiridos! Mas lembremo-nos que o passaram em nome de uma ideologia, de um partido, de uma causa que escolheram. As violências praticadas não o foram por se ser preto, vermelho, judeu, muçulmano, desta ou daquela região, mas por se assumir uma postura ofensiva, de ataque, de destabilização. Quando se assume uma causa e uma luta, que é física, assumem-se as consequências, reagindo, revoltando-se, mas sem vitimizações e disso está o discurso do PCP cheio cheio cheio. Se vivesse-mos num regime totalitário comunista e eu decidisse colocar bombas por aí, ou traficar armas para uma revolução, teria de compreender que, caso fosse capturado, o inimigo se defendesse de mim. É uma guerra aberta. Os militantes do PCP assumiram-se como tal, saíram pelo lado vitorioso, mas sofreram a resistência da parte de quem também se achava certo e no dever de reagir. Logo, aqui não há vítimas.

Vivemos o epílogo das verdades exclusivas do lado vitorioso. É tempo de repor tudo. E, como deverá compreender, haverá ainda muito por descobrir, mas de um lado e do outro, disso podemos todos ter a certeza.

Creia-me, com respeito.

Anónimo disse...

Preparada pela PIDE:
Tenho um bocado dificuldade em acreditar nessa tese.

Mas vou deixar uma que se calhar poucos sabem, existiu um cunhado do GNR que tb fugiu que sabia da fuga.

A tese do Dr. Salazar e seus acólitos, no primeiro instante foi de que os presos teriam fugido num submarino soviético, que estava no Baleal (próximo de Peniche).

A outra data, a fuga deveria realizar-se a 7 ou a 10 de Janeiro
e de repente passa para 3.

Para terminar 2 H após a fuga quando foi detectada, as barragens de polícias surgiram por todo lado, vasculhavam tudo.

Já agora a suspeita de a fuga ter sido organizada pela PIDE carece não só de provas como de testemunhos. A imagem do bom PIDE recreada por alguns dos antigos membros desta organização poderá revelar algum problema de consciência.

Ainda quanto aos arquivos da PIDE, ouvimos falar muito, mas provas que são provas, nada!

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