CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

2.1.07

PENICHE 1960 - 2006 (3)

Publicada por zemanel |


Ficávamos todos os anos, em Agosto, cá em cima, naquele bairro antes de chegar à Papoa, junto à estrada que seguia para o Cabo Carvoeiro.
O bairro Viola, de casas térreas habitadas pelos homens do mar, cheirava a carvão e a sardinha assada, todos os dias. Era por essa altura que víamos os primeiros homens de boina basca preta na rua, passada que estava a faina da noite e o descanso da manhã. Na praia de Peniche de Cima construíam-se os barcos da cooperativa: O FRUTO DA LIBERDADE, O RUMO À LIBERDADE, O RUMO AO SOCIALISMO, o PORTUGAL DE ABRIL. Dos pequenos restos da cortiça utilizada nos barcos, aprendíamos com os outro putos de Peniche ( o Zé Manel, o Nuno) a fazer pequenos barcos, que alisávamos e moldávamos na muralha do “Baluarte” que ficava na extremidade da praia conhecida pelo povo de Peniche como a Torradeira.
Nos dias de nevoeiro, quando tocava a “vaca “ no Cabo Carvoeiro, era dia de irmos a pé à papoa, ao Cabo ( com paragem obrigatória junto do rochedo da NAU DOS CORVOS).
À noite íamos até ao cais. Na telefonia, em onda marítima anunciava-se a chegada dos barcos. O velho Zé Viola, mestre do ANACLETO embarcara ao fim da tarde e os primeiros barcos chegavam perto da meia noite.
Descarregava-se o peixe e enchia-se o saco a alguns amigos. Ali ao lado o velho forte, imponente, do outro lado do pontão, onde o mar bate mais forte. Abandonado, ainda não era o Museu que hoje é. Era uma "simples" má memória de um tempo que o povo derrubara há poucos anos.
Circulávamos livres pela vila, enquanto os mais velhos contavam velhas histórias do Forte e de como se passava ali, sem sequer se poder parar. Coisa estranha que terminara na madrugada do dia 25 da Liberdade.
Voltávamos para a casa dos Violas. Pelo caminho encontrávamos mais gente de Torres Novas, amigos dos pais, alguns deles, antigos prisioneiros e, naqueles anos da Liberdade, não abdicavam, apesar de tudo, das férias em Peniche: Entre outros lá estavam todos os anos o Toneca, o Zé Ribeiro e a Benvinda, o Arlindo e a Fernanda. Isto tudo que vos conto acontecia nos finais dos anos 70.
...Isto interessa-vos para alguma coisa?

6 canhotices:

Maria disse...

Porque não?
As memórias não fazem parte da vida?
Individual e colectiva?
Claro que interessa, ainda mais quando narras estórias passadas em sítios que tão bem conheço...
Muito obrigada

Maria disse...

zé manel

Permite-me que diga à GR que os barcos que não foram abatidos mantêm o nome...

É uma beleza chegar a Peniche e vê-los ali, RUMO AO SOCIALISMO!

Anónimo disse...

Nem todos os barcos existem hoje, muitos já fazem parte do imaginário colectivo de penichenses e das gentes que nos visitam.
As gerações mais novas irão perdendo memórias se não forem contadas pelos seus ascendentes.
Das memórias das cooperativas de pescadores pouco resta mas há um nome que ainda surge frequentemente, Unicoopesca, e muitos jovens ainda não a esqueçeram....
Pergunte ao Zé ou ao Joaquim...

Anónimo disse...

Ola José Pereira,

Não consegui ficar indiferente ao que aqui escreveu e não resisto ainda mais a questionar quem é o Ze Manuel e o Nuno que refere, mais...quem é você??...Eu sou o Nuno Viola, muito prazer! O neto do ENORME(em tudo) José Viola e da Deolinda, esse mesmo que com enorme carinho retracta...parabéns!! Contacte-me por favor! nuno.viola@gmail.com.

Nuno Viola disse...

Ola novamente, será que me pode contactar? nuno.viola@gmail.com.

Anónimo disse...

Claro que me interessa e muito!
Gosto muito de Peniche, e principalmente não abdico de uma visita ao forte/museu que é um marco histórico de um período negro de Portugal.
Todos os anos passo férias nas praias desta bonita zona e as vivências referidas remetem-me para pensamentos felizes de uma infância que nos dias de hoje é quase impossível.
Mas recordar é viver, e sigamos em frente.

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