Velhozes duros*
Não sei se quando este este artigo chegar aos olhos do leitor, os sindicatos estarão a concretizar a pré-anunciada greve nos hipermercados na véspera de Natal.
Se tal suceder e independentemente do sucesso da greve estamos perante um facto histórico absolutamente assinalável e que importa reflectir, também aqui, em Torres Novas, onde os hipermercados se multiplicaram nos últimos anos.
Os hiper’s são um fenómeno a que não escapamos ou resistimos. Ali há a possibilidade de termos num único espaço asseado e luminoso, com parque de estacionamento, onde não chove nem faz frio nem calor, uma imensa variedade de produtos aos mais diversos preços.
Os Hiper’s constituíram-se também nos últimos anos uma actividade económica relevante e o nível de emprego que proporcionam não é de ignorar. Não podemos desvalorizar, por exemplo, que os Hipermercados em Torres Novas permitem o emprego de algumas centenas de pessoas e isso é um facto extremamente importante.
Por isso que o anúncio da greve, para este Natal deve ser alvo da nossa atenção.
É que é sabid a troco da chantagem da empregabilidade, aos hipermercados tudo tem sido permitido constituindo no nosso país um dos sectores onde a exploração laboral é mais acentuada e aguda.
Caracterizam-se basicamente por baixos salários e com baixa especialização (apesar de empregar pessoas de diferentes níveis de qualificação) impera a lei do contrato a prazo, do desregulamento de horários e na generalidade dos hipermercados um profundo desprezo pelo exercício de liberdades sindicais. Os hipermercados, propriedade de importantes grupos empresariais, têm funcionado como pequenos feudos, sem fiscalização pela Inspecção do Trabalho e não são raros os relatos de terror psicológico que alguns exercem.
Tudo isto a troco da ”oferta” de emprego. Como se o direito ao emprego fosse indissociável da exigência de um emprego com direitos.
Verdade seja dita: Estes grupos têm agido impulsionados por governos que revendo consecutivamente as leis laborais, têm desequilibrado as relações de trabalho a favor dos empregadores. O Código de Trabalho de Bagão Félix com as revisões de Vieira da Silva, foram nesse aspecto um doce para esta gente.
Este pré-aviso de greve surge porque os Hipermercados preparam-se para que a semana de trabalho possa vir a ser de 60 horas semanais – equivalendo a 12 horas por dia. Ter um emprego não é sinónimo de escravidão!
Caso não recuem nesta ameaça a greve torna-se justa e merece de todos nós consumidores a nossa solidariedade.
Como torrejanos, deveremos também reflectir nos efeitos sociais de tal medida que afectará a vida de inúmeras famílias. Os infantários, as escolas, as associações são vítimas de medidas deste cariz que destroem a coesão familiares e a participação das pessoas na vida da sua terra.
Num concelho onde algumas empresas históricas recorrem ao lay-off, ao recurso a empresas de trabalho temporário (aumentando a precariedade), onde multinacionais fazem despedimentos colectivos, muitas pequenas e médias empresas encerram silenciosamente, neste Natal de 2009, dispensávamos bem o uivo destes novos lobos travestidos de Popotas e Leopoldinas…
Boas Festas!
* Em Torres Novas não comemos sonhos, filhó, filhós nem filhoses. Aqui comemos velhozes fofos e macios. Com o sabor dos velhozes que a minha avó Piedade fazia e distribuía vaidosa pelas outras velhotas lá da rua: a vizinha Perpétua, a vizinha Piedade, a vizinha Maria, a vizinha Adelaide, a vizinha Damião…
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