CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

20.7.09

a alegria inventada

Publicada por zemanel |

Um leitor deste espaço comentou o útlimo post considerando-o de pessimista.
Quem o escreveu o post, respeita mas discorda. Mais: para além de discordar aceita que aquilo que quis escrever seja diferente daquilo que é interpretado pelos leitores. É por isso que ler é um acto tão criativo como escrever - o leitor descodifica a mensagem utilizando ele próprio os seus métodos de racicocínio, aplicando conhecimentos e experiências.
Voltemos à vaca fria, que é como quem diz, ao pessimismo.
Que se passa afinal à nossa volta, nos nossos dias?
Uma onda permanente e constante de transmissão de sentimentos de alegria e até euforia. A boa disposição reina e reina mal por todo o lado: vais à praia e gramas no areal com o som da música do bar, as aulas de step e aeróbica para banhistas, o mar já não se ouve, no verão em Torres Vedras levam o carnaval para a praia de Santa Cruz transformando o insuportável numa tonteria fora de época sem sentido, muito bombo, muito bimbo, toda a malta anda a curtir.
Nas televisões das nove à meia noite é alegria permanente, com programas feitos por todo o país, pagos pelas Câmara Municipais com muita alegria, com muito jogos, muitos beijinhos, muitos saltinhos, muito pimba, muito João Baião, muita cor, muita cor,alegria, alegria, alegria.
Aqui por Torres Novas inaugurou-se a Praça 5 de Outubro e já a dita, pois claro, tem um programa de animação todos os fins de semana. Eis a obra deste regime animada ao som do batuke, uma espécie de Virgínia de Verão e eu que julgava que a Praça teria vida pelas pessoas que nela quissessem passear, sentar-se nos bancos, ler o jornal, conversar , sim conversar, beber o café, ler um livro...
Irra! Alinhar com isto é ser optimista?!
Chamem-me mal disposto, pessimista o que quiserem!
Negarei sempre!
O narrador que vos escreve, gosta de festas, convívios, música e vejam lá, até gosta de discotecas.
Mas há uma coisa de que não abdico: a uma pausa no ritmo dos dias para ler, reflectir, escutar o genuíno som das ruas e da vida das pessoas.
Digo isto de sorriso nos lábios: tenho direito a momentos em que não estou alegre, não tenho que estar sempre alegre, mas também não estou triste, nem deprimido e não sou mais bruto por causa disso. Este direito pertence-me, não abdico dele e juro que por causa dele não vou ao psiquiatra nem vou entregar-me ao prozac.
Eis que de repente dou por mim, com uma vontade imensa de voltar um destes dias, ao fim da tarde, ao Sacas na Zambujeira, deixar-me estar tranquilamente petiscando, conversando, escutando o Atlântico lutando com a falésia, enquanto mansamente a noite chega calma e tranquila, no mais sereno pôr do sol que conheço.

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