CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

17.3.09

A fera

Publicada por zemanel |


Sócrates, o primeiro ministro, soltou a fera contida tantos anos!

Ontem, ouvi o senhor criticar o sindicalismo da CGTP por ser um sindicalismo de protesto e afirmou, para que todo o mundo saiba, "que o sindicalismo do futuro é o da negociação e da concertação."
Criticou ainda a CGTP - Intersindical Nacional de estar ao serviço da agenda do PCP e do BE - retomando a velha tese da corrente de transmissão.
Eis Sócrates, o engenheiro, líder de um Partido dito Socialista, no seu mais brilhante exibicionismo ignorante da história do movimento sindical português e europeu.
Vamos por partes:

1.
Sócrates ignora a História e origem da maioria dos Partidos Socialistas europeus: a maioria provém do mundo sindical e do trabalho. Em portugal, o Partido Socialista Português ( que se dissolveu em 1926 com a ditadura do Estado Novo) teve origem burguesa numa dissidência do Partido Democrático: isso justifica o seu desaparecimento. Já o PCP nascido nos meios operários e com ligações a sectores anarco-sindicalistas, se constitui desde a primeira hora do Estado Novo como organização resistente, embora com contradições várias no plano teórico e ideológicos, inerentes a algumas das suas raizes anarquistas. Situação que o tempo e a luta foram resolvendo.
Em 1973, quando Mário Soares e outros exilados no estrangeiro lançam o PS ( depois da experiência com a ASP) retomam as origens burguesas do velho partido socialista - embora ( sinal dos tempo) afirmasse agora a sua origem ideológica no marxismo.
Entretanto já a Intersindical Nacional havia sido criada: Fruto de muitos anos de luta e combate, de tomada por dentro das direcções dos sindicatos fascistas, os trabalhadores portugueses anti-fascistas conseguiram juntar as suas forças num grande movimento sindical unitário- a ele afluíram comunistas, católicos ( ligados a movimentos da doutrina social da Igreja como a JOC/JEC e LOC) e também muitos democratas antifascistas sem doutrinação política. Foi assim que nasceu a Intersindical Nacional.

2.
O 25 de Abril e o seu processo revolucionário evidenciaram bem cedo as contradições de classe do PS na construção do socialismo em Portugal. A Intersindical Nacional, afirma-se como uma das grandes forças progressistas da Revolução Portuguesa logo a 1 de Maio de 1974.
Por todo o país o 1º de Maio em Liberdade constituiu uma jornada histórica e que porventura consolidou o triunfo do golpe militar de 25 de Abril.
À INTER, aderem muitos trabalhadores e entre eles muitos socialistas.
No entanto, é o PS que vai estar na primeira linha do combate contra a Unicidade Sindical e, desejando partir a espinha à Intersindical, a reacção do PS e do PPD consubstacia-se na criação da UGT - esta sim, uma central sindical criada por partidos políticos, ao serviço de partidos políticos e sempre disposta a colaborar com os sucessivos governos dos Partidos originários.
A UGT portou-se sempre como a voz do dono! os governo podem mudar - A UGT nunca muda, é coerente: está sempre do lado do poder!
3.
Quando José Sócrates elogia a UGT e o sindicalismo de negociação de tipo europeu está a cometer porém um erro histórico: o sindicalismo europeu de negociação é uma coisa muito diferente do sindicalismo da UGT. O sindicalismo da UGT é o exemplo do sindicalismo serventuário ao serviço dos governos do Estado. Se quisermos falar em sindicalismo de correia de transmissão em Portugal, temos verdadeiramente que falar da UGT.
José Sócrates faz de conta que a UGT é uma Central de tipo europeu e moderna. Engana-se.
As centrais sindicais, que verdadeiramente contam e que se dignificam, são os movimentos sindicais autónomos que estão dispostos a negociar mas também estão dispostos a reinvindicar - cumprindo o seu papel de movmentos sociais. Os Sindicatos servem para servir os interesses dos trabalhadores : eis a realidade crua.
Com acordo, desejavelmente claro.
Negociando? preferencialmente ...mas sempre?
Os sindicatos não servem para assinar acordos, atrás de acordos, sem seriedade e cumprindo o seu papel de agentes do poder luso, rotativo e bi-partidário.

4.
É curioso que Sócrates acuse a CGTP de estar ao serviço de forças políticas, precisamente no Congresso da Ala Socialista da UGT. Aqui se vê como Sócrates anda de passo trocado entre o que diz e o que faz. O que se diria se Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã reunissem alas da CGTP em congresso próprio? Mas então isso não é manobrar o sindicalismo? Pode a UGT reinvindicar, nestas condições, a sua posição de Central Sindical independente?


5. Para mais Sócrates esqueceu a questão da pluralidade da CGTP. A sua raiva e cegueira são tão fundas que se esqueceu que quando ofende a CGTP e os seus trabalhadores, ofende igualmente os milhares de trabalhadores socialistas da CGTP. Mas cada ataque gratuito feito por Sócrates à CGTP só serve para nos lembrar a todos, de que lado está Sócrates. Serve para nos lembrar de que lado estão os seus homens e instituições de mão.
Serve para nos lembrar o prestígio, que se renova no dia a dia, da CGTP e dos trabalhadores portugueses organizados no movimento sindical unitário!

1 canhotices:

José Ricardo Costa disse...

Completamente de acordo!

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