CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

5.3.07

Portugal suicidado

Publicada por zemanel |


Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz dos povos
à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
(...)
Ary dos Santos

2 canhotices:

Anónimo disse...

Sinto-me triste ao ler este poema... Recordo a voz do Ary dos Santos no vinil roufenho que temos a declamar o poema, com a força e entoação que ele como ninguém colocava nos poemas que declamava...
Sinto-me triste por esse país suicidado, 30 anos depois, ser cada vez mais, o retrato do país que temos...
Rui

Maria disse...

E quando ele declamava este poema, com o braço direito pra trás e prá frente, como a dar força ao pessoal que o ouvia?

Vamos acompanhar os próximos episódios dos "filmes" que se andam por aí a programar...

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