CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

26.12.08

Lopes - Graça era comunista, ponto final.

Publicada por zemanel |


Em Tomar, cidade natal do músico abriu a casa memória Fernando Lopes - Graça.
Um trabalho meritório de muitos anos em que assumiu a liderança do projecto, desde o início António de Sousa, homem da cultura nabantina e que se assume como estudioso da obra de Graça. Foi pois natural a sua escolha para director científico da Casa Memorial.
No entanto, António de Sousa, em entrevista à edição desta semana de O MIRANTE não resiste ao espírito do tempo, em que o impera branqueamento do passado comunista de alguns dos maisores vultos da cultura nacional do século XX.
Lamentavelmente, António de Sousa refere em entrevista publicada pelo O MIRANTE na edição de 24 de Dezembro de 2008 que:


" Reconheço que há muito preconceito mas que fique claro, Lopes-Graça foi comunista de 1948 a 1952 e de 1975 para cá. Quando dizem que ele já nasceu e foi sempre comunista não é verdade. Lopes-Graça era, de facto, uma pessoa de esquerda e um anti-fascista convicto. Era uma pessoa muito solidária e esteve sempre ao lado de comunistas mas teve questões muito graves com o Partido Comunista (PC) e rupturas. O seu posicionamento era mais ético e mais humano do que propriamente político. Depois do 25 de Abril, houve muito aproveitamento do nome e da personalidade dele para actividade política mas se for aos textos do PCP o nome de Lopes-Graça está quase apagado. Porque houve sempre aquela ideia que ele não era domesticável. Lopes-Graça era muito mais do que comunista."


Não se percebe (?) a intenção de António de Sousa. Aparentemente, pretende dizer que antes do 25 de Abril a militância se limitou a meros 4 anos (!) e depois fala de questões graves com o PCP mas não refere que questões e em que períodoelas ocorreram e que, só em 1975 voltou ao Partido Comunista, numa idade avançada da sua vida, supostamente menos lúcida .
Em resumo, Graça teria sido um antifascista, claro, mas limitou-se a ser um compagnon de route do PCP, que mais tarde se aproveitaria dele.

Esta é uma ideia que tem sido vendida abundantemente sobre outros intelectuais comunistas - ainda recentemente em Torres Novas, alguém pretendeu vender a mesma ideia sobra Maria Lamas.
Seria uma história se não fosse falsa:
Fernando Lopes - Graça foi Comunista e foi-o desde muito novo - com cartão?
provavelmente não, pois que cartão era coisa que obviamente não existia!
Mas Graça, nas suas duas prisões nos anos 30 foi preso com a acusação de ser comunista!

O posicionamento anti-fascista de Graça foi sempre de militante da causa comunista e, depois do 25 de Abril, assumiu sempre a sua condição de comunista.
Onde está o problema nisto?

Abuso é dizer que houve aproveitamento político do seu nome,.
É absoltamente mentira, mentira caluniosa dizer-se que nos textos do PCP o nome de Graça está quase apagado. Para quem se diz conhecedor da obra de Graça, esta afirmação é grave, muito grave, inclusive no plano científico.
Tal falsidade não pode passar impune!

Durante o centenário do nascimento de Graça em 2006, o Mestre foi merecedor pelo PCP das maiores homenagens, com edições de CDS e DVD's com inéditos e inclusive, foi homenageado de uma forma grandiosa na FESTA DO AVANTE! 2006.

Para finalizar, por agora, permitam-me uma pequena provocação: Graça foi um grande músico, militante comunista, membro lúcido e livre do colectivo PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS.
O património cultural que nos deixa e a sua memória, não têm dono, felizmente!
Mas Fernado Lopes - Graça foi mais que um músico:
Foi um Comunista!

É interessante ler este excerto, talvez António de Sousa o devesse ler, do texto de Filipe Diniz publicado na revista comunista "o militante" de Novembro de 2006 e que divulgamos aqui um pequeno excerto:

Confrontos? de ideias...

A sua adesão ao Partido, em 1948, não é assim mais do que a sequência natural da intervenção de alguém que desde a juventude assumira uma corajosa e intransigente opção democrática, antifascista, progressista.

À data da sua adesão ao Partido, Fernando Lopes-Graça sofrera já as perseguições políticas, a prisão, o desterro, o exílio.

O fascismo vedara-lhe o acesso a cargos públicos – e mesmo quando lhe foi proposto dirigir os Serviços de Música da então Emissora Nacional, não chegou a tomar posse do cargo porque se recusou a assinar a declaração de «repúdio activo do comunismo e de todas as ideias subversivas» que o fascismo exigia aos funcionários públicos.

A adesão ao Partido tem, nestes termos, um significado acrescido. Lopes-Graça não era alguém que se tivesse «aproximado» do Partido.

Era alguém que estava onde estava o Partido.

Que partilhava as mesmas lutas, as mesmas ideias, a mesma repressão, a mesma fraternidade, os mesmos objectivos, e que quis com esse gesto confirmar o caminho comum que há muito traçara (6) .

Há historiadores que, pretendendo fazer a história do Partido nas décadas de 40 e 50 do século passado não julgam encontrar, sobretudo entre os intelectuais, senão divergências, confrontos, divisões, dissidências.

É oportuno, a propósito da figura exemplar de Lopes-Graça, afirmar alguns aspectos bem diferentes dessa abordagem enviesada.

Em primeiro lugar, lembrar que o confronto de ideias e algumas das polémicas documentadas nesse período significam certamente um debate vigoroso entre personalidades de fortes convicções, mas não significam divergência em relação à orientação e à luta geral do Partido.

E aqueles que têm procurado contrapor, nomeadamente nas polémicas acerca da «forma e do conteúdo», as posições de Fernando Lopes-Graça e as de Álvaro Cunhal, poderão, com proveito, aproveitar a ocasião do centenário do nascimento e reler e comparar os textos publicados de ambos sobre esta matéria. Ficarão certamente surpreendidos alguns desses historiadores, não com a divergência, mas com a significativa coincidência de posições.
6) Em ambas as prisões dos anos 30 Lopes-Graça fora acusado de integrar e dirigir «organizações comunistas

1 canhotices:

Anónimo disse...

Caríssimos

O que se pretende insinuar acerca de Lopes Graça foi o que se pretendeu fazer passar no colóquio sobre Maria Lamas recentemente realizado na Biblioteca Municipal. Estivesse presente a comunicação social até final e teria tido oportunidade de relatar o escândalo a que Maria Antónia Palla quis subordinar a figura de Maria Lamas. Felizmente que a provocação não passou sem resposta e onde supunham encontrar terreno férti para a manipulação encontraram a resposta de quem viveu os mesmo tempos conturbados, as mesmas lutas e as mesmas expecattivas da camarada Maria Lamas. O que se pretende fazer a Lopes Graça e se pretende fazer a Maria Lamas é uma afronta a essas figuras e a esses vultos da cultura e da política portuguesa.
Sabendo que a sua defesa não é infelizmente possível pretendem minorar o importantíssiomo papel que desenpemharam ao lado do povo fazendo-o sempre na sua qualidade de Militantes Comunistas.

Que vivam para sempre a obra e o exemplo dos cidadãos empenhados que foram os camaradas Lopes Graça e Maria Lamas.

Zé do Telhado

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