CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

23.5.06

O VIADUTO

Publicada por zemanel |

José Marques, retoma a conversa do viaduto.
Símbolo do triunfo rodriguista e do PS, José Marques no "SUBVERSIVO" retoma o tema. Provavelmente por saudades de uma boa polémica que não é possível por via das mansas águas políticas torrejanas. Mansas ou amansadas. Mas essa é outra conversa. Vamos ao Viaduto, pois, se para tal a minha humilde opinião merecer a atenção sempre sapiente de José Marques.
(Uma moeda tem sempre a outra face. Mas se repararem bem, tem ainda outra. Uma moeda tem três faces! Portanto entre o Branco e o Preto há tantas matizes...)
Também o Viaduto tem vários ângulos de análise: O Rodoviário, o Planeamento Urbanístico, o Plano Cultural e o Plano Político. Parecendo todos eles independentes, todos eles se interligam e cruzam na questão do viaduto.
José Marques dá de barato que:
1 - "a cidade ficou mais funcional"
2 - "Hoje, poucos são os que ainda afirmam ter sido um erro a sua construção. O tempo (cronológico) desmentiu os profetas da desgraça(...)"
José Marques tem direito à opinião. Não tem direito ao neo-estalinismo de tomar a sua opinião como a única verdade absoluta.
Mas aceitemos que são poucos que afirmam ter sido um erro...Aceitemos isso como exercício de reflexão: O facto de serem poucos, desmentirá o facto de eventualmente o viaduto ter sido o maior erro de urbanismo cometido nos últimos anos em Torres Novas? A qualidade da intervenção urbanística mede-se pelo número imediato dos que gostam ou pelo impacto futuro da obra numa cidade?
O Tempo desmentiu os profetas da desgraça, diz-nos José Marques...O tempo? Três curtos anos são o quê na vida de uma cidade? Um sopro?
Assentemos no viaduto. Não mudarei nunca a opinião de José Marques. Nem ele a minha. Mas há factos. O viaduto lá está, por lá passo todos os dias o que não me impede de por mais uma vez explicar a minha visão da asneira. Para que conste, para a história.

1. Plano Rodoviário
Salgado Simões, no seu Largo da Botica, explica graficamente a ideia que tenho para Torres Novas. a Circular Exterior era possível e resolvia o problema do Viaduto. Com a Circular exterior evitava-se a construção do viaduto. José Marques considera que as duas obras não são incompatíveis e são complementares. Mas a realidade é que a construção do Viaduto comprometeu provavelmente a construção da Circular Externa pelo menos por mais uns 20 anos. Sendo que a Circular seria sempre a solução para o trânsito e mobilidade mais adequadada no futuro. Embora mais complexa. A solução politicamente mais fácil foi a que foi tomada. Mas foi a solução que compromete o futuro. O viaduto enche o olho e dá votos. A Circular passou a um sonho.
2.Plano Urbanístico
a)A Cidade "ganhou" um corte. O futuro das ligações rodoviárias nas cidades faz-se por circulares urbanas, não por eixos que atravessam o centro.
b) António Rodrigues e o PS prometeram que o Viaduto traria uma requalificação urbana associada: veja-se os extremos do viaduto.
Na Zona Alta o Estaleiro que se tornou o Largo Humberto Delgado deveria envergonhar qualquer autarca socialista! A megalomania do projecto inicial deu lugar a uma "coisa" que me abstenho de qualificar! Só se é esta a forma que a CMTN e seus apaniguados arranjaram de homenagear o General Sem Medo!
c)No outro extremo, na Avenida João Martins Azevedo é outra bagunçada. A Casa do Guarda que seria uma memória da Casa Nery foi mais uma das ilusões que passou. O monumento ao Operário foi arrumado a um canto. A máquina da Casa Nery parece um lança misseis na rotunda. O Espaço que vai do viaduto ao Rio e, que foi prometido ser arranjado como um espaço de fruição ( mesmo pequeno) é hoje um talude de terra abadonada. Do Viaduto para a antiga Fábrica, são ruínas no centro da Cidade. Vergonhosas. À espera da gula da especulação imobiliária. E aí , quando se construir os prédios prometidos, quero ver se a Pressão Urbana não se vai reflectir na fruição da Avenida. E por culpa de quem? do Viaduto. E de quem descaradamente mentiu aos torrejanos.
3. Plano Cultural
A antiga Casa Nery, demolida por via do viaduto poderia ter tido outro futuro. Arquelogia Industrial diz alguma coisa? O prolongamento do jardim da avenida, criando um parque de lazer junto ao rio era óbvio. (...e mais uma vez digo, a alternativa rodoviária existia)
4. Plano Político
Parece hoje evidente que o viaduto serviu para o que serviu : Caçar Votos.
Era um sonho antigo unanimemente aprovado por todos os partidos?
Foi-o em tempos seguramente. Mas perante uma análise mais cuidada das alternativas, perante a evolução do pensamento humano sobre o património e a sua definição, houve posições evolutivas. Ao contrário de outros, que nunca quiseram olhar para o futuro. Foi face a isto que,
entretanto um grupo largo de torrejanos abrangendo todo o espectro político pediu um debate público. Sempre recusado. Sempre negado.
Aguentemo-nos hoje com este logro.

1 canhotices:

Pedro Antunes disse...

Zé já a bastante tempo não conseguia entra no teu blog… Mas o problema resolveu-se.

Reactivamente a este texto, quero te felicitar pelo excelente raciocínio muito coerente. Concordo em pleno com a tua explicação. Mas como temos vindo a ver estas maiorias absolutas são autênticas ditaduras e para manterem uma posição politica são capazes de se atirar por um precipício.

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