MAS PUBLICOU O SEGUINTE POEMA...
Enquanto isso sobem os homens pelo sistema solar... Deixam pegadas de sapatos na Lua... Tudo luta por mudanças, menos os velhos sistemas... A vida dos velhos sistemas nasceu de imensas teias de aranha medievais... Teias de aranha mais duras que os ferros das máquinas... No entanto, há gente que acredita numa mudança, que tem posto em prática a mudança, que tem feito triunfar a mudança, que tem feito florescer a mudança... Caramba!... A primavera é inexorável!
PABLO NERUDA, poeta comunista chileno. Do livro "Confesso que vivi. "
OS COMUNISTAS
Passaram-se alguns anos desde que ingressei no partido... Estou contente... Os comunistas formam um a boa família... Têm a pele curtida e o coração moderado... Por toda parte recebem golpes... Golpes exclusivos para eles... Vivam os espíritas, os monarquistas, os anormais, os criminosos de todas as espécies... Viva a filosofia com muita fumaça e pouco fogo... Viva o cão que ladra e que morde, vivam os astrólogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarão, viva todo mundo, menos os comunistas... Vivam os cintos de castidade, vivam os conservadores que não lavam o pé há quinhentos anos... Vivam os piolhos das populações miseráveis, viva a fossa comum, gratuita, viva o anarco-capitalismo, viva Rilke, viva André Guide com seu corydonzinho, viva qualquer misticismo... Esta tudo bem... Todos são heróicos... Todos os jornais devem sair... Todos devem ser publicados, menos os comunistas... Todos os candidatos devem entrar em São Domingos sem algemas... Todos devem celebrar a morte do sanguinário de Trujillo, menos os que mais durante o combateram... Viva o carnaval, os últimos dias de carnaval... Há disfarces para todos... Disfarces de idealista cristão, disfarces de extrema esquerda, disfarces de damas beneficentes e de matronas caritativas... Mas cuidado: não deixem entrar os comunistas... Fechem bem a porta... Não se enganem... Eles não têm direito a nada... Preocupemo-nos com o subjetivo, com a essência do homem, com a essência da essência... Assim estaremos todos contentes... Temos liberdade... Que grande coisa é a liberdade!... Eles não a respeitam, não a conhecem... A liberdade para se preocupar com a essência... Com o essencial da essência... Assim têm passado os últimos anos... Passou o jazz, chegou o soul, naufragamos nos postulados da pintura abstrata, a guerra nos abalou e nos matou...Tudo ficava como está... Ou não ficava?... Depois de tantos discursos sobre o espírito e de tantas pauladas na cabeça, alguma coisa ia mal... Muito mal... Os cálculos tinham falhado... Os povos se organizavam... Continuavam as guerrilhas e as greves... Cuba e Chile se tornavam independentes... Muitos homens e mulheres cantavam a Internacional... Que estranho... Que desanimador... Agora cantam-na em chinês, em búlgaro, em espanhol da América... É preciso tomar medidas urgentes... É preciso bani-lo... É preciso falar mais do espírito... Exaltar mais o mundo livre... É preciso dar mais pauladas... É preciso dar mais dólares... Isso não pode continuar... Entre a liberdade das pauladas e o medo de Germán Arciniegas... E agora Cuba... Em nosso próprio hemisfério, na metade de nossa maça, esses barbudos com a mesma canção... E para que nos serve Cristo?... Para que servem os padres?... Já não se pode confiar em ninguém... Nem mesmo nos padres. Não vêem nosso ponto de vista... Não vêem como baixam nossas acções na bolsa...Enquanto isso sobem os homens pelo sistema solar... Deixam pegadas de sapatos na Lua... Tudo luta por mudanças, menos os velhos sistemas... A vida dos velhos sistemas nasceu de imensas teias de aranha medievais... Teias de aranha mais duras que os ferros das máquinas... No entanto, há gente que acredita numa mudança, que tem posto em prática a mudança, que tem feito triunfar a mudança, que tem feito florescer a mudança... Caramba!... A primavera é inexorável!
PABLO NERUDA, poeta comunista chileno. Do livro "Confesso que vivi. "
1 canhotices:
o texto é muito bonito, mas oferece diferentes leituras. hoje postei sobre Havana, não com qualquer objectivo de resposta ao canhotices (que aliás, continua a manter um excelente nível) mas pela oportunidade da leitura do livro citado.
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