CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

24.5.06

Liberdade e Democracia

Publicada por zemanel |

Professor Luis Sá
Professor Armando Castro

Hesitei em escrever este post...
Pode parecer que tenho um obcessão com o SUBVERSIVO.
Mas por razões pessoais que a seguir descrevo, não resisto...Aliás não me encolho, nem me acanho...
Tive a honra de aos 18 anos e fazendo na altura parte da Direcção do Cine-Clube (presidida por António R. Canelas e de que JTM também fazia parte) assistir à conferência do Professor Armando Castro. Por essa altura aliás passaram pelo Cine-Clube nomes como Carvalho da Silva, Rogério Paulo, Pezarat Correia, numa série de conferências. Em 1994 (já não estava na direcção do Cine-Clube) esteve presente Álvaro Cunhal.
Impressionou-me na altura o Professor de Economia. Porque assentou a sua dissertação com a aplicação à vida prática das teorias económicas marxistas, que aliás defendeu até ao fim da sua vida, em 1999. Desconhecia o artigo na Vértice e a referência a Torres Novas.
Retenho no entanto na memória que, em 1992, na "ressaca" da queda dos países socialistas, a intervenção do Professor esforçou-se por enumerar os erros cometidos- mas sem colocar em causa a visão social de uma economia marxista, baseada nos seus principios dialécticos e, reiterando a falência do modelo capitalista de sociedade, que cairá devido às suas próprias contradições internas.A sua principal crítica, se bem me lembro, era para o facto de os países socialistas terem cristalizado o seu pensamento, perdido a sua criatividade e, portanto, abandonado os principios dialécticos do marxismo. A ausencia de liberdades individuais, a estatização de toda a actividade produtiva/económica estariam na base da falência daquele modelo prático.
No entanto, numa leitura marxista da história o Capitalismo e a sociedade política que o sustenta não eram alternativas. Nem são, acrescento eu.
É por isso que concordo inteiramente também com a citação que JTM faz de Luís Sá:
"Ela está na liberdade igualitária, no trabalho com direitos, na qualidade ambiental, na rea­lização efectiva dos direitos económicos, sociais e culturais, na conjugação da democracia representativa com a participa­ção política e a democracia directa, na afirmação da di­gnidade e dos direitos nacio­nais em simultâneo com a assunção da necessidade de regulação a outros níveis, par­ticularmente de questões sociais e ambientais, no quadro do combate por uma ordem inter­nacional mais justa."
(Luis Sá viria receber o doutoramento no ISCSP (www.iscsp.pt) da Universidade Técnica de Lisboa, tendo sido seu orientador o Professor Maltez (www.maltez.info). Assisti aliás à defesa da sua tese, no Auditório Adriano Moreira do ISCSP. O carácter pessoal e a qualidade intelectual seriam amplamente elogiados pelo júri.)
Ora, pretender que Luís Sá, com este texto defendia este modelo de sociedade em que vivemos hoje é no mínimo abusivo. Repare-se como Sá (estupidamente falecido em1999) pretende dar o salto para uma outra ordem social: chamemos-lhe Democracia Avançada, chamemos-lhe Socialismo...
Curioso é que se utilize o nome de Sá para atacar o Partido de que morreu militante, na própria sede, no seu gabinete na Soeiro Pereira Gomes...São muitos os que o fazem. Como se Sá fosse um nome incómodo para o PCP. Fazem-no com desonestidade intelectual, diga-se. Porque os mortos não falam.
Em 1992, havia em muitos militantes comunistas muitas desilusões, dúvidas e perplexidades com os acontecimentos sucedidos a Leste. Mas o pensamento e prática evoluem. Dialecticamente, não recusando o passado mas aprendendo, rectificando, melhorando os erros conetidos. Sem Resignar ou desistir. Em nome de alianças de poder efémero.
Em 2006 as águas estão bem mais clarificadas:
A defesa de uma economia mista, de uma democracia participada, nos seus níveis políticos, económicos, sociais e culturais, são indispensáveis para uma sociedade fraterna e justa.
O modelo capitalista e todos os que o defendem ( com uma face mais ou menos humana) está esgotado! A luta do Homem ao longo da história aponta para a queda do Capitalismo.

A participação cívica, a democracia plena e as Liberdades são principios e práticas defendidos hoje sem tibiezas pelo PCP - por mais que isso custe a alguns, que recuam quase 20 anos (!) apontando para as perplexidades que eles próprios tiveram.( Muita desta gente eram os que tinham as maiores certezas.) É por isso que tendo uma morte tantas vezes anunciada, este projecto está vivo na sociedade portuguesa. E rejuvenescido como prova o último congresso da JCP, no passado fim de semana em Gaia. Pese a resignação, a traição, e a desistência de muitos ao longo de 80 anos.
O projecto socialista actual do PCP (em 2006) bem como de outras forças progressistas, em todo o mundo, poderia ser perfeitamente sintetizado naquele parágrafo de Luís Sá.
Estamos cá neste combate, com mais dúvidas que certezas...Há erros? Claro que há! Ele há coisas que pessoalmente entendo poderiam ser diferentes, há pois.
Mas...Aprender, aprender sempre! Em conjunto, sem iluminados.
(Mas mais vale a ir errando do que ter a certeza do lugarzinho político...ao serviço de alguém e da política de alguém que nomeia o seu cunhado para chefe de gabinete, nomeia o presidente da Assembleia Municipal para seu assessor, espalha o seu nome por n placas no concelho - degradando a qualidade da democracia local. Perante isto, de JTM, membro eleito da Assembleia Municipal pelo PS tem-se ouvido o quê?)
...E juro nada me move contra JTM, mesmo que ele nunca tenha ligado muito ao puto que foi seu colega na direcção do Cine-Clube.


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