CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

21.10.09

Saramago, Caim. Obviamente.

Publicada por zemanel |

Escrever o quê ? desta polémica entre Saramago e a Igreja Católica, a propósito do lançamento do "CAIM". Escrever o quê, quando tanto se tem dito e escrito.
Apenas ficam por aqui umas reflexões sobre este debate:
Muitos dos que defendem a Igreja e as Religiões nunca leram a Bíblia (mesmo que todos os Domingos cumpram a sua função). Muitos dos que levantam a voz em defesa de Saramago nunca leram nem pensarão ler 20 linhas de Saramago (mesmo que a estante lá de casa tenha as obras completas do escritor da Azinhaga.
Assentemos.
-Não creio que Saramago esteja fazendo esta operação por mero golpe publicitário. O velho escriba, galardoado em Nobel, poderia ter escolhido um caminho mais fácil, mais simplista, mais politicamente correcto. Saramago foi sempre um escritor amargo que sempre escreveu sobre o bicho homem que pelo seu egoísmo é cruel, trai, engana, mente e mata mas que é também o mesmo Homem capaz das maiores realizações e conquistas.
Recebido o Nobel em 1998, toda a sua obra acentuou este caminho. Saramago poderia querer morrer como um escritor do regime, deste regime. Poderia querer morrer como um homem coberto de honrarias e transformado numa Amália da letras.
Hoje parece óbvio que o seu percurso foi o inverso: Saramago sabe que em breve deixará de escrever e que o seu fim físico se aproxima. E é sabendo disto que Saramago escolhe ser o Homem que nos inquieta permanentemente e sacode as nossas convicções, independentemente da sua origem.

Saramago inquieta-nos permanentemente.
É essa a sua revolução: Perguntar, interrogar, questionar em nome do Homem uno sujeito do futuro que é sempre colectivamente construído.
Coloca em causa o bicho homem que na sua cegueira despreza o irmão mas ama profundamente o bicho homem que constrói a passarola para voar e ir mais longe.
É essa inquietude, do miúdo que quis descobrir o mundo para lá da Azinhaga e do Almonda, que ficará para a História da Literatura Portuguesa.
Para lá da vontade dos senhores das ideias construídas.


3 canhotices:

samuel disse...

Bonito texto!

Abraço.

GR disse...

já comecei a ler o livro, estou a gostar muito.
Tanto como o teu texto.
Parabéns!

bjs,

GR

Anónimo disse...

Excelente texto. Ainda que considere pessoalmente o género de Saramago algo delirante.

Asterix

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