A gente vê e não acredita.
Hoje no noticiário do almoço de uma estação de TV exibiu-se uma reportagem em que num dos aeroportos nacionais (penso que o do Porto) se faz uma recepção aos emigrantes que chegam para férias? E que se mostra ? Um país moderno? Um País que fez uma EXPO 98? Não...Dá-se uns acepipes - chouriço e pastelinhos de bacalhau- com uma menina vestindo um fato de minhota e um senhor de acordeon. Pelo meio uma fulana pimba vai cantando "UMA CASA PORTUGUESA", enquanto se prova um tintinho...
A gente vê e não acredita!
Estamos em 2006 ou em 1946 com António Ferro e o seu famigerado SNI?
Por favor...
Os funcionários judiciais não podem falar das condições de trabalho nos tribunais sem a devida ordem superior, o presidente do Sindicato da Polícia não pode assistir à formatura de novos colegas, 2 dirigentes do Comité Central do PCP foram identificados e sujeitos a Termo de Identidade e Residência por manifestação ilegal.
Por todo o lado há um cheirinho ao back to basics.
o Regresso ao Fado, as noivas de Santo António, a tourada. A bola
O medo. Sim, o medo do desemprego. Do vizinho. Da política.
A bandeirinha obrigatória na janela.
Faltava-nos esta nos aeroportos...
Deste site retirei alguns excertos de um texto interessante sobre António Ferro e a sua política de propaganda:http://acultura.no.sapo.pt/page8Matriz.html
Digam lá se este Portugal de hoje, está assim tão diferente...Basta ler os sinais...
António Ferro não estava sozinho quando defendia todo um ideário que expressava identidade da cultura portuguesa, naquilo que julgava ser a sua autenticidade. Desde finais dos anos trinta, que este ideário percorria toda a administração pública , sendo nos aos quarenta teorizado por muitos dos mais reputados intelectuais portugueses.
António Ferro, tal como Gobbels tinha uma percepção clara de como a cultura se poderia transformar num poderoso instrumento de poder ao serviço do Estado, nomeadamente na construção de uma retórica cultural onde os conflitos sociais são harmonizados em torno de grandes desígnios nacionais.Ao Povo Português é atribuida uma missão divina - propagar e defender os grandes valores da cristandade no mundo. O seu Império é apresentado como o exemplo da obra civilizacional do mundo ocidental. As suas aldeias, constituída por gente trabalhadora, pobre e feliz é apresentada como um exemplo às outras nações civilizadas, onde pululam grandes urbes industrializadas minadas pela desordem e imoralidade.
A política do Estado Novo, no seguimento da ditadura militar de 1926, assumiu como missão restaurar a "alma da pátria portuguesa" que os governos democrático-liberais haviam procurado destruir. A ordem pública, o miraculoso equilíbrio das contas públicas eram apresentados como exemplos de um país que voltou a reencontrar-se consigo próprio, aceitando o que herdou do seu passado glorioso, com o orgulho de quem aceita o que melhor pode aspirar, libertando-se de todos os seus desejos exteriores. Conformam-se os pobres com o que possuem, e os ricos com aquilo que Salazar lhes proporciona. As elites culturais com o estatuto de privilégio que lhes é proporcionado. A exaltação patriótica dos "valores nacionais" não se projectam no sentido de descobrir novos saberes ou técnicas, mas na auto-contemplação do ser português, como se nessa atitude se contivesse tudo o que de melhor se pode aspirar. A história de Portugal, como a concebe Salazar e a encena António Ferro, termina afinal na quietude contemplativa da sua própria trajectória, nos seus hábitos e costumes, tudo o que em suma, faz que sejamos o que já somos.(...)Nos dez primeiros anos, o SNP privilegiou três áreas: a propaganda do ideário do regime, o turismo como meio de difusão da imagem de um país feliz consigo próprio, e a cultura popular como instrumento integrador das camadas mais baixas da população.
Depois de 1944, o SNI, dotado de novos meios, para além da propaganda, começa a actuar no controlo e censura da informação veículada pela comunicação social e com a inspecção das actividades culturais. O Estado Novo sente-se cada vez mais isolado, e com uma ideário que não consegue gerar tão amplos consensos como os que no período anterior foi capaz de produzir. O turismo foi perdendo grande parte da sua função ideológica, para se transformar na promoção de mais um destino para férias a preços baratos. As preocupações económicas secundarizam as de natureza ideológica. A cultura popular acabou por ser enquadrada no âmbito da etnografia, em regra ao serviço também da promoção turística. O SNI que até aí privilegiara a população rural e o imaginário dirige-se agora para as camadas urbanas, nomeadamente as de maior rendimento e instrução. Só após a saída de António Ferro, em 1949, será possível dar corpo a esta nova orientação política.(...)"
1 canhotices:
Grande António... Um visionário, sem dúvida. Um homem de sensibilidade extrema, realista, honesto, dedicado, coerente.
Aqui fica a minha sincera homenagem.
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