CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

3.3.10

Ainda não desistimos

Publicada por zemanel |

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896.
AINDA NÃO GUARDÁMOS OS CRAVOS

É tempo de desmentirmos Guerra Junqueiro e outros fatalistas.
Tempo de deixarmos de ser o povo resignado aos dois partidos sem ideias e à burguesia cívica e politicamente corrupta. Tempo de dizermos que ainda não desistimos, ainda não desistimos de ser portugueses, não desistimos de Portugal e sobretudo não desistimos do futuro.
Por outros dias lutamos. Contra o passado e contra este presente sem futuro.
Mobilizemos o povo português. Portugal não é um país pobre e fatalmente condenado. Lutaremos como lutámos em 1385, 1640, 1820, 1910 e 1974.
Sempre que o Povo saíu à rua, ganhou Portugal.
Há uma exigência cívica a cumprir nas ruas das cidades e vilas do meu país.
Pela Democracia, Pela Liberdade e pela Justiça Social.
Pela luta é que vamos.

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