Na minha cidade , afinal que vida é esta? Não se escutam as sirenes das fábricas, andamos por aqui nas avenidas construídas e corremos todos os supermercados, os shopings, os retails, consumimos felicidade com o plafond do cartão de crédito a esgotar, esquecemos as fábricas que encerraram, nem reparamos que a velha Fiação sobrevive de corda ao pescoço, o comércio jaz morto e arrefece, a rua da levada está vazia de gente, a rua das freiras abandonada, quase que juro que desapareceram os homens no largo da botica, o bairro de são pedro vai caíndo em ruínas mais a rua de santo antónio, a miguel de arnide, a zona de santiago e valverde, as casas altas que continuam esquecidas sem saneamento básico, e no meio de tanto vazio, sobra tanta insegurança nas nossas noites.
Temos o viaduto, as imponentes torres de cinco andares que se constroem, as rotundas, as pontes, a cultura que se paga bem paga no Teatro, e sabemos que isso são lantejoulas de brilho efémero, porque aquilo que fica e fica a doer, são as colectividades que resistem sem sabermos como, tanta gente que desapareceu, já não se sai à rua, tanta gente que abdicou das nossas ruas, dos nossos largos, do nosso espaço público, tanta gente que abandona afinal a cidade, tanta gente que só encontramos vagamente nos modelos e no lidl, e sobretudo, acima de tudo, há tanto ordenado que falta, tanto trabalho que falta, tanto trabalho pago num recibo verde, tantos almoços que já não se comem mas que ninguém sabe muito menos a família ou o vizinho, sobram os medicamentos na prateleira da farmácia e eu pergunto, onde está a gente da minha cidade, afinal que vida é esta?
1 canhotices:
Uma vida que é preciso, urgentemente, sacudir, para que acorde e grite, antes que se extinga.
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"Acordai
Acordai vós os que dormis..."
Abraço
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