CANHOTICES

...em Torres Novas, Ribatejo, Portugal. Do lado esquerdo da vida.

22.4.08

FMR (m-l)

Publicada por zemanel |


Morreu hoje de madrugada, Francisco Martins Rodrigues. Combatente anti-fascista, foi militante e dirigente clandestino do PCP. Esteve com Álvaro Cunhal na fuga de Peniche de 1961.
Mais tarde, viria a tornar-se dissidente do PCP, fundando em Portugal o Maoísmo tendo sido considerado o Papa do esquerdismo.
Esteve na criação de várias organizações conhecidas como M-L, tendo a estado na fundação do PCP (R) e da sua frente eleitoral UDP, de onde também sairia.
Aliás, o seu caminho, caracteriza-se na fundação de sucessivas organizações esquerdistas de que viria sempre a sair, fundando sempre novas organizações cada vez mais pequenas e micro-celulares. Coerentemente, nunca escondeu o seu ódio ao PCP, que caracterizou sempre de revisionista.
Acabou só. Militante único de um Partido Comunista Martins Rodrigues (M-L) que ficou por registar no Tribunal Constitucional.
Terá morrido a afirmar-se comunista, todavia sem Partido. Na sua permanente procura da pureza ideológica e da pureza da prática revolucionária, sem ter percebido o erro original dessa impossibilidade.
Incapaz de perceber os outros, vivendo permanentemente numa utopia revolucionária de Partidos Comunistas, puros mas unipessoais, sem organização, sem militantes nem povo: Sem gente.
Morreu só e derrotado, tal e qual o seu percurso revolucionário: uma espiral de isolamento e divisão.
Fica o respeito pelo anti-fascista.

5 canhotices:

Anónimo disse...

Havia qualquer coisa de trágico neste homem. Nunca o conheci pessoalmente, mas a minha ligação à UDP, ainda antes da fundação desta e até 1977/8, obrigou-me a ler muitas coisas escritas por ele, pelo menos era o que se suspeitava. Estas leituras estavam ligadas à putativa refundação do verdadeiro partido comunista. Havia uma célula local da ORPC-ml (fusão dos CCRML, CARP-ML e URML - ainda me lembro) que deu origem ao PCP-R (a UDP era a face legal). Era neste célula e, depois, na do PCP-R que se oficiava a liturgia escrita por Martins Rodrigues.

O curioso, se tanto me consigo lembrar, era que os seus textos, para além da retórica esquerdista ml, transpiravam uma imensa nostalgia do PCP. Aliás, a UDP/PCP-R nunca foi exactamente esquerdista como o MRPP, havia ali qualquer coisa que de certa maneira estava próximo do modelo do PCP.

O Zé Manel diz que ele nunca escondeu o seu ódio ao PCP. Não sei se aquele ódio não seria a confissão de um amor que acabou abruptamente. O coração dos homens é estranho. Entre Francisco Martins e o PC havia divergências ideológicas relativamente às questões do comunismo internacional e da transição portuguesa à democracia. Hoje que nada disso me interessa, a não ser como memória do que fui, relativizo essas aparências. Só um grande amor explica um ódio profundo. Talvez a sombra de Cunhal explique muita coisa. Os comunistas também rivalizam entre si.

Fica com mais umas pequeníssimas notas da história do esquerdismo ml em TN

Abraço
JCMaia

Anónimo disse...

Ora agora sim, duas ideias bem interessantes. Provavelmente, um grande ódio é explicado como negação e recalcamento de um grande amor. E que o conceito de posse está bem patente nos partidos de esquerda.

Não se compreende como é que os dissidentes são sempre os coitadinhos, os maus da fita. Como o caso mal contado da Mesquita... depois de 25 a 30 anos de militância exemplar, num abrir e fechar de olhos, expulsa do partido...

Mas não é de um dia para o outro que se deixa um passado de luta. O senhor em causa é exemplo disso, apesar de se afastar do PCP e de passar por outros partidos ou movimentos de esquerda não deixou de ser comunista...

É que essa coisa de se ser comunista não é propriedade do PCP ou do BE, UDP... comunista pode bem ser o dissidente ou homem livre que se cansou de responder "Amen".

Anónimo disse...

Quando o Avante denunciava militantes anti-fascista( João Pulido Valente e Ruy d,Espinay), no celebre artido

Cuidado com eles.....

Quando Francisco Martins Rodrigues respondia ao Rumo á Vitoria de Cunhal ,com Luta pacifica luta armada no nosso partido.

E á unidade de todos os portugueses honrados, outra tese de Cunhal, com o Luta de Classes ou unidade de todos os portugueses honrados.

FMR defenia claramente uma prespectiva politica alternativa á linha que Cunhal defendia para o PCP.

Qual a resposta da então direcção do PCP ás criticas politicas, a expulsão, com a acusação de ele ter roubado ao partido uma maquina de escrever.

Mas o Chico não odiava o PCP, porque o PCP de que ele foi militante activo e muito importante, há muito que tinha acabado.

O Chico, como hoje lembrou um texto, lido no ultimo adeus aqueles que o quiseram homenagear, nesta ultima hora, até fazia uma homenagem a Francisco Miguel, como o paradigma do dirigente operario, capaz lutar até ao fim pelos seus ideais.

Chico Martins não estava só, e os muitos amigos que estiveram hoje no Alto de S. João , mesmo que discordando de muitas das suas ideias, são disso a melhor prova.

Anónimo disse...

Foi bom teres trazido para aqui esta discussão? Talvez tenha sido, até porque toda a discussão pode ser útil...
Venho dar o meu contributo, com uma pequena dúvida que tantas vezes me assalta: o que é ser comunista, hoje? Já li algumas respostas que me levam a dizer "se isso fosse ser comunista" eu não o seria!
Por outro lado, fazer parte de um colectivo, conhecer e estudar as bases teóricas adoptadas por esse colectivo, conhecer e cumprir os seus estatutos, participar e conhecer e praticar o seu programa, conhecer e aplicar as suas regras de funcionamento DEMOCRÁTICO mas com uma direcção única, nada tem a ver com caricaturas de obediências e "améns", tem sim a de ver com a de HOMEM LIVRE e a lutar pela liberdade, não como ficção e ilusão.
Ser comunista é...
Que cada um se pergunte, a começar pela pergunta comesinha se está no meio de outros, se é humilde para se sentir "mais um", sobretudo quando defende, sem peias, as "suas razões" e outros, do seu colectivo, acham que as "razões" devem ser outras e que, por isso, também passam a ser as suas.
O "caso mal contado de Luísa Mesquita"? Que quer isto dizer? Quem põe assim a questão considera-se comunista? Pois, a meu ver, só lhe posso dizer que está enganado/a (ou então estarei eu... o que também é bem possível!), o que não somos é o mesmo!... E eu continuarei seguindo, livremente, as premissas que enunciei para fazer parte de um colectivo de base teórica marxista-leninista e
prática social de luta de classes, como partido da classe operária e dos trabalhadores.
Respeitando os outros que não são comunistas (como eu sou) mas exigindo que eles me respeitem e que... se respeitem.
Um abraço

Anónimo disse...

Porque na página do PCP nada se diz da morte do Chico Martins Rodrigues?

Subscribe